Achei por bem fazer essa publicação. Achei por bem continuar a falar sobre o assunto porque iguais a mim, há milhentas meninas (e até meninos) que se sentem observadas por terem a sua marca única estampada no corpo, cada vez que chega o Verão.
Como já tinha explicado aqui - o que se passa cada vez que me arrasto pelo centro comercial ou mesmo na rua.
Passo a explicar a minha pequena, espinhosa e apedrejada caminhada até aos dias de hoje. Nasci com um problema nos pés, algo chamado pé boto. Eu ajudo-vos a ilustrar, basta imaginarem alguém com os pés virados para o lado de dentro. Não, não é em posição de bailarina, é ao contrário! Isso levou-me a fazer várias intervenções cirúrgicas desde pequena, desde os primeiros dias até aos meus 24 anos. Infelizmente, tive complicações ao longo destes anos - tendões pouco desenvolvidos que me reduziram a mobilidade dos dedos dos pés e meteram-nos em posição de garra. Já para não falar que não posso usar saltos, pois o meu pé direito, que foi o que sofreu mais operações de tendões, ossos e sabe-se-lá-mais-o-quê não faz a curva. E vocês perguntam: como assim? Não faz curvatura, é plano, portanto saltos altos - para mim, nunca. (Obrigada Plataformas por existirem). Com o meu problema de nascença, surgiu há dois anos o problema do joelho! As notícias não eram as melhores, mas havia solução : operar. Senão daqui a uns anos provávelmente não me iria mexer e não teria joelho! A minha cicatriz ficou impecável. Acho-a linda. A última cicatriz, é na barriga, devido a uma complicação à nascença também! Oh mãe! Podias ter tido um pouco mais de espaço, não? Já conto com uma média de 15 operações e nunca me importei com as assinaturas que os médicos foram deixando.
Outra particularidade que posso incluir neste pequeno "manifesto" é a minha mancha de nascença na mão. Normalmente as perguntas pergunta-me : "queimaste-te?" e a minha resposta é sempre a mesma : " eu gosto de brincar com o fogão". As pessoas, as inteligentes ficam minimamente desconfortáveis e outras simplesmente nem se apercebem da idiotice que perguntam. Se fosse queimado, a minha pele era uma montanha-russa, cheia de relevo. Não é necessário ser médico para entender que esta minha mancha é apenas um pigmento.
Passemos ao que interessa. Coisa que não suporto é pessoas estúpidas, pessoas ocas, cabeças de vento. Apanho todos os dias pessoas assim. Deixa-me agoniada tanta estupidez numa só pessoa. Falo das pessoas que fazem questão de olhar para uma cicatriz descoberta. "Olhe, Olhe à vontade". É assim que eu respondo a olhares pouco discretos e ainda reajo pior com olhares indiscretos - com uma lata enorme - que se põe aos segredinhos, como duas crianças a falar mal de uma terceira, por causa de um peluche. Segredinhos com olhares muito directos, com ar de nojo, medo, como se uma cicatriz fosse uma doença contagiosa. Corram, muito, saiam-me da vista, criaturas! Na maior parte das vezes estes olhares passam-me ao lado, mas outras é quase impossível. Sabem aquelas pessoas que querem e tentam ser discretas, mas só fazem pior? E ainda caiem no erro de comentar seja o que for? Ora bem essas pessoas são as minhas favoritas. Aquelas que não têm mesmo nadinha na cabeça e só se contentam em ver os problemas dos outros. Qual problema qual quê? Graças a Deus, não os tenho. Foram resolvidos com muitas horas de anestesias, muitos bisturis, pontos, muitas fugas do pré-operatório e de muita paciência e apoio familiar. (Sim eu viro o Hulk, assim que entro no bloco operatório e até bato nos enfermeiros). Problemas, é o que as pessoas têm quando agem sem pensar e de forma nada discreta. É como se o cérebro lhes parasse ali, naquele momento.
Nunca tive problemas, desde pequena, sempre encarei as minhas cicatrizes como minhas. As minhas marcas de guerra, as minhas tatuagens únicas. Quem é que se dá ao luxo de ter assinaturas de médicos? Eu tenho várias, cerca de 9 cicatrizes. Uma operação, quase, para cada ano de vida. Um recorde, talvez. Aceito-me como sou. Ando de chinelos, com as cicatrizes ao vento a refrescarem-se - também têm direito. Ando de calções a pavonear o meu joelho e a sua linha bem marcada na pele. Ando de bikini na praia a mostrar a minha cicatriz da barriga como se não houvesse amanhã. Ando na praia, com cada uma das cicatrizes destapadas. Complexos para quê? Nasceram comigo!
Quanto às pessoas que olham, param, falam e dizem asneirada atrás de asneirada digo-vos: estejam caladas. Olhem e sigam o vosso caminho. Ou não olhem, mas sigam o caminho, porque graças a Deus, tenho a minha própria personalidade que não compactua com gente estúpida. Tenho o meu mau feitio que por vezes me dá jeito - jeito de mandar as pessoas ir dar uma volta ao bilhar grande, quando as oiço a segredar com o próximo a olhar fixamente para uma das minhas milhentas cicatrizes. Força para me chegar perto de pessoas que não conheço de lado algum e lhes digo educadamente e com todas as letras "atrasada é você" ou "anormal é você". Acreditem que isto aconteceu e eu só me posso rir destas situações, pois mostra, infelizmente, a tristeza da nossa sociedade de mente tacanha. Uma sociedade que só está bem a comentar o alheio e nem se apercebe que poderá deixar a pessoa desconfortável com olhares ou comentários.
Um dos episódios que talvez me tenha marcado mais foi quando ainda estava no ensino secundário. Tinha atestado médico todos os anos mas era obrigada a carregar com pesos, correr e tudo aquilo que o médico me tinha proibido. Mas não, a atrasada do hospital, como o professor me chamava, obrigava-me a fazer tudo e mais alguma coisa. Felizmente, o meu péssimo feitio serve para alguma coisa - mandar o dito cujo para um certo sítio - aqui a menina do hospital, a atrasada do hospital, mandou o professor calar-se e deu-lhe uma lição de moral. Após este lindo e maravilhoso episódio, deixei de ser a menina do hospital e deu-me o nome de Sara.
Em dias de verão não vou deixar de usar o que quero, seja bikinis, calções, saias, vestidos. Não vou, recuso-me. Recuso-me a dar vitória a pessoas estúpidas, ocas. Não dou e faço questão de andar à lá verano. Faço questão também apanhar comentários no ar de voyers indiscretos e esfregar-lhes na cara que apanhei em flagrante. Faço ainda mais questão de parar, respirar fundo e mostrar indirectamente, mas bastante directamente, a cicatriz - atirando à cara do desconhecido que não sou nenhuma coitadinha, nenhuma atrasada mental e muito menos limitada!
Como pedi na publicação do facebook, volto a pedi-la aqui : Se virem alguém a mancar, a andar torta, com uma perna postiça, e até com trissomia 21, passem apenas o olhar, como se estivessem num café na conversa, não passem o olhar e fiquem fixamente a olhar como se fosse um cancro, algo contagioso só pelo olhar. Todos nós temos sentimentos. Se acham que ninguém se apercebe que está a ser observada, enganam-se: apercebem-se. Tenham o cuidado de não deixar ninguém desconfortável - ninguém tem esse direito.
Tu que tens cicatrizes ou outras particularidades - tuas e só tuas, não te acanhes. Não te deixes que te deitem abaixo. Não deixes que te chamem nomes, nem seja indiscretos a roçar o ridículo. Faz frente, ergue-te, continua, despreza ou responde de forma educadamente "atrasada é você". Mostra o dedo do meio e sorri. Ou melhor : sorri e segue. Eu amo-me. De uma maneira louca. Aprende a gostar de cada detalhe teu.
Deixa-me segredar-te algo : És linda! És linda como és, os teus defeitos fazem ser-te quem és, senão seriamos todas iguais!
Ninguém sabe da vida de ninguém. Ninguém sabe o que X ou Y passou. Ninguém tem o direito de ser indelicado no silêncio ou no proferido. Ninguém.
I felt like I should write this post. I felt like I should touch the subject since there are many like me, thousands of girls (and boys) who feel watched for having their own unique mark on their body whenever summer is knocking on their door. As I had already explained here - this takes place whenever I walk arond the mall or the street. Let me start by explaining my rocky and thorny road up until today. I was born with a problem on my feet, something called club foot. Let me paint you the picture, imagine someone with their feet bending inwards. No, not like a ballerina, the complete opposite! Because of this condition, I had to undergo several surgeries since I was little, from my first days of life up until my 24th birthday. Unfortunately, I had a few health issues across the years - such as underdeveloped tendons which not only reduced my mobility but also made my fingers look like claws. Not to mention that because of this I can't wear heels since my right foot, which is the one which underwent the most sugeries to its tendons, bones and whatever else, doesn't have the usual curvature. Now you ask me: how come? Well, it doesn't have that small curvature in it, it's flat, so I will never be able to wear heels. (Thank you for existing, platorms). Along with this birth problem I had to face some problems on my knee, two years ago! Not the greatest news, but there was a solutions: surgery. Otherwise I wouldn't be able to move in a few years and wouldn't have anything I could call a knee! My scar came out flawless, though. I think it's gorgeous. My other scar is on my stomach, again, thanks to some complications during birth! Oy, mother! You could've given me some extra room, huh? I have at least 15 surgeries under my belt and I was never bothered by the "signatures" my doctors have left on me. Another little peculiarity I can add to this "manifest" is my birthmark on my hand. Usually people ask me: "did you burn yourself?" and my usual reply is: "I love to play with the stove." People, the slightly smarter ones, are left a little uncomfortable by the question while the rest hardly realises how dumb their question was. If it was a burn my skin would be a rollercoaster with highs and lows. It doens't take a PHD to realise that this is a birthmark. Let's cut to the chase. If there's something I can't stand it's stupid people, hollow folk with air for brains. I bump into people like this everyday. It makes me sick how much stupid fits into one person. I'm talking about those people who absolutely MUST stare at someone's scars. "Take a good look." That's how I answer those poor attempts at a discreet glance, and you can bet that I'm far less kind towards any indiscreet glances that - without shame - are acocmpanied by whispering, as if two brats were badmouthing a thrid one over some plushie. Whispering, prying eyes, disgust, fear, as if a scar was something contageous. Run, quickly, get out of my sight creatures! Most of the times I turn a blind eye, but now and then there's no way around it. Do you know those people who ty so hard to be discreet but only make things worse? And then make the mistake of commenting about whatever? Well, those are my "favourites". Those who are so superficial and have so much empty space in their heads and are only happy when pointing out the problems of others. What problem? Thank god I have none. They were all fixed with several hours of anesthesias, scalpels, stitches, many escapes from the surgical block and a lot of patience and support from my family. (Yeah yeah, I turn into the Hulk as soon as I set foot in the block, I even hit the nurses.) Problems, issues, is what people have when they act before they think and in such a blatant way. It's as if their brain just stopped, right there and then. I have never had any issues, even as a child, and I always thought of my scars as my own. My own war-scars, my unique tattoos. How many people can say that they have autographs from their doctors? I do, plenty, around 9. A surgery per year of life, give or take. A true record, maybe. I accept myself as I am. I wear slipper, with my scars enjoying the breeze - they deserve it. I wear shorts, showing off my knee and its sharp line on my skin. I wear bikinis at the beach to show-off the scar on my stomach as if there was no tomorrow. I show off my scars at the beach. Why should I be embarassed? They were born with and on me! As for the people who stop, look, gossip and talk trash, let me tell you something: shut up. Take a good look and move on with your lives. Or don't look and keep moving because, thankfully I have my own personality and it doesn't go with stupid people. My terrible temper comes in handy sometimes - it helps me tell people to go get bent when I hear them talk behind my back and staring at my scars. It gives me strength to approach those people and tell them "you're the cripple" or "you're the retard here". Believe me, this has happened and I can only laught about it as it, unfortunately, illustrates how small-minded and sad our society is. A sort of society that is only happy when it makes someone uncomfortable with stares and gossip. Perhaps the hardest situation so far was during highshcool. Every year I had a doctor's leave but I was forced to carry weights, run and do all the things my doctor had forbidden me of doing. But no... the Retard from the Hospital, as my P.E teacher called me, forced me to do everything the other kids did. Fortunately, there was my bad temper - it allowed me to tell him to bugger off - the Retard from the Hospital shut him up and gave him a small lecture on morality. After this episode, he started calling me by my name, Sara. I'm not going to stop wearing what I want in summer, be it bikinis, shorts, skirts or dresses. I won't, I refuse. I refuse to let hollow, idiotic people win. I won't and I'll be sure to walk around à lá verano. I make an effort to catch every comment from indiscreet voyeurs and rub it on their faces that I caught them red-handed. I also make sure I stop, breathe in and show, in a very direct, indirect way my scar - showing the stranger I'm no poor-soul, no retard and much less a cripple! As I asked on my facebook post, I ask you here: If you see anyone limping, walking in a different way, with a fake leg or with trisomy 21, don't stare, just look around normally as you would if you were having a coffee, don't stare as if it was cancer or some highly contageous. Every single one of us has feelings, after all. If you think people are none the wiser when you're watching them, you're sorely mistaken: they know. Be mindful and avoid making others uncomfortable - no one has that right. You, the one with scars or other unique features - only yours, don't be shy. Never allow others to kick you down. Don't let others insult you or be indiscreet. Move on, stand up, keep going, ignore them or reply, in the most polite way "you're the only retard here." Flip them the bird and smile. Better yet: smile and keep walking. I love myself. In a crazy way. Learn to love every single of your details. Let me tell you a secret: You're gorgeous! You're stunning the way you are, your flaws make you who you are in a great way, otherwise we'd all be the same! No one has anything to do with somebody else's life. No one knows what X or Y went through. No one has the right to be unpolite whether in silence or in a spoken way. No one.
Escrito por
Diary of Fashion